sábado, 29 de novembro de 2014

Tudo o que sobrou é apatia. Acabaram-se os assuntos, o humor passa longe agora. Para onde foi aquela garota divertida e pervertida na medida certa? Ela amadureceu. E a escuridão a fez cair na realidade, abrir os olhos e enxergar um mundo não muito colorido e nem sequer empolgante. Onde estão os príncipes? Contos de fadas se restringem aos livros infantis. Mas a garota, mesmo apática e sem saber por onde começar após mais uma decepção de amor, queria continuar procurando por um rapaz que fosse capaz de arrancar um sorriso bobo daqueles lábios secos. Talvez amar seja difícil demais e seja só para as pessoas sortudas. Ela nunca foi sortuda. É mais provável começar a procurar apenas por uma boa transa do que por um quente amor. Transas são sempre mais fáceis, com o ritmo certo e um simples encaixe duas pessoas conseguem esquecer as coisas ruins pelo que passaram, as mágoas e se renderem ao prazer. Focarem apenas naquele momento e, por menos de uma hora, são capazes de se sentirem livres e desejadas. Uma efemeridade melhor do que um amor incerto. É o prazer sobre o amor agora. 

sábado, 22 de novembro de 2014

Um menino e uma menina apenas

Eram férias de verão de 2011 quando uma menina conheceu um menino. Ela jogava só para matar o tempo e ele alegou ser difícil encontrar uma menina de verdade nos jogos virtuais. Trocaram perfil do facebook e começaram a conversar. A menina sentiu uma ligação enorme com o garoto como se os dois já se conhecessem, o papo era amigável. Parecia que ela estava conversando com sua melhor amiga.
Desabafaram, compartilharam gostos, riram juntos, inventaram expressões. Finalmente trocaram números de celulares. Passaram um mês conversando cotidianamente por mensagem de celular e pelo facebook à noite. As horas desapareciam quando os dois conversavam e a menina sempre mantinha um sorriso nos lábios. Os dois aproveitavam e apreciavam o momento.
Ele sempre falando de ir vê-la de que só dependeria dos dois para eles se encontrarem. Mas aquilo só ficava na brincadeira e a garota entendia. Eram separados por quase 900 km. Por essa razão, ela ficava repetindo que era só oba-oba e que não sentia nada por esse cara. E assim foram quatro meses de ela se iludindo. Até os dois ouvirem a voz um do outro.
A garota começou a namorar, mas não conseguiu contar para ele por receio de afetar o modo como ele a tratava. Permaneceram conversando normal. Na véspera de natal ficaram trocando mensagens a noite toda. A garota esquecia o namorado nesses momentos, passou a procurar as qualidades que admirava no paulista nele. Decepcionada terminou o namoro.
Ela já não podia negar que cultivava um carinho especial por ele, no dia do natal, continuaram a trocar mensagens. O garoto estava na casa do primo fazendo nada:
“Pro meu dia ficar melhor só falta você aqui comigo”
“Opa, compra a passagem que to indo praí agora! Mas do jeito que você é de muitas mulheres capaz de enjoar de mim facinho e jaja me mandar de volta kkkk”
“Na minha opinião, você seria suficiente para o resto da minha vida”
Essa frase arrancou um enorme sorriso de susto da garota e foi ali que ela não pode mais sustentar a ilusão de que não estava envolvida. Que sofrimento!
Os dois continuaram a conversar, mas devido à correria da vida eles pararam de se falar todo dia à noite por horas a fio. Não há nada que a garota sinta mais falta, mas o garoto chega cansado do serviço e agora está fazendo faculdade também.
Quando ele tirou carteira de motorista respondeu a mensagem que a menina havia lhe mandado desejando sorte:
“Passei, to muito feliz! Agora eu já posso ir aí te ver!”
Essas pequenas frases inesperadas, que a garota não tinha exigido da parte dele, mas que mesmo assim ele falou, foram conquistando-a sutilmente.
Para arrematar, uma conversa no sábado à noite que a menina puxou:
- Não fala mais comigo não é?
- quem é você? usauhshausuhashu Eaew, não é bem assim.
- Agora que foi promovido não lembra mais dos pobres, né?
- É que eu estava vendo tv..
- Pode falar na cara, não precisa mentir... kkkkkkk
- Nossa, está carente é ushausauh quer que eu vá ai te consolar???
- Opa! Eu quero, venha antes q a carência me devore kkkkkk Já tá saindo daí? haha
- to mais pra ir pra baladadepois eu do uma passada ae.. se num liga se eu tiver de ressaca nao neh.. uashahus
- Olha isso! Me menosprezando. Podexá q um 'amigo' meu já tá a caminho http://static.ak.fbcdn.net/images/blank.gif obrigada pela disposição, mas eu fujo de homem de ressaca. Eles ficam chatos. Se você sem estar de ressaca ja é chatinho, imagina quando estiver? Viiixi
- chatinho.. Agora a coisa ficou seria. Vou ter q ir ai agora! A balada vai ficar pra depois!
- kkkkkk como assim
- Vou nessa deu a hora da balada. Depois agente se fala.
- Ok ;*
Passa uma meia, uma hora e ele manda mensagem falando:
“estou no ônibus indo pra balada e depois pra sua casa!”
“Ixi, já vou preparando o colchão aqui fora de casa pra vc, mas não se preocupa que vou colocar coberta. Se bêbado já é chato imagina bêbado e gripado...”
“Eu vou dormir é na sua cama!”
“E quem disse que eu vou deixar você entrar?”
“Eu entro pela janela huahsuahs”

Hoje, após oito meses, eles mantêm contato sempre que possível. Ainda se encontram no facebook pelo menos uma vez por semana, conversam um pouco e depois voltam para as suas vidas distantes.
As conversas são apimentadas como sempre foram e carinhosas também. A menina morre de vontade de saber o que o menino pensa deles e da situação em que eles se encontram, mas não tem coragem para perguntar ainda mais agora que eles não se falam mais frequentemente. É como se parte da intimidade deles se esvaiu com a perda dessa rotina. Será que ele sente o mesmo quando conversa com ela? Será que ele teria coragem de vir à cidade dela em um feriado ou nas férias? Será que os dois vão dar certo quando se encontrarem?
Em uma conversa usual, a menina fala que está passando por um momento muito difícil em sua vida, ele a ouve de forma solidária.
- Agora, eu posso te dizer uma coisa? Seria muito bom eu ter você aqui comigo nesse momento... Eu queria que você estivesse aqui do meu lado para me ajudar com tudo isso.
- As coisas não são bem assim, não posso largar tudo e ir prai, tenho meu trabalho e a facu...
- Eu sei, eu entendo que é complicado pra você, mas mesmo assim... Eu queria muito.
Conversaram mais um pouco e se despediram. Passado uma semana dessa conversa o menino manda uma mensagem a menina:
“Prepare a casa que eu to indo prai! Huashasuha”
Um arrepio percorreu o corpo da garota a medida que ela lia e relia a mensagem. Um sorriso lerdo estampou-se em seu rosto e ali ficou o resto do dia.
“Tá falando sério?”
“To, você não queria um apoio? Quando chegar te aviso”
“Obrigaaaaada, faça uma boa viagem meu doidinho preferido!”
Ele chegou no dia seguinte, sexta, pela manhã. A garota pegou o carro e foi buscá-lo no aeroporto como uma menininha no natal que vai a loja sabendo que seu pai comprará o presente dos seus sonhos. Ela não sabia pelo que ficava mais embaraçada, se era pelos seus olhos inquietos rondando a multidão ou se era seu coração bobo que insistia em querer sair do seu peito.
Estava andando pela área de desembarque quando o viu. Alto, com uma blusa preta listrada de roxo, calça jeans e uma mochila na mão. Ele parecia já tê-la localizado a algum tempo, sorriu quando seus olhos se cruzaram. A garota quase involuntariamente apressou o passo na direção do rapaz e a cada passo aumentava o sorriso que já estava em seu rosto jovial. Ela se sentia uma adolescente em seu primeiro amor. Sentia-se tão tola, será que ele repararia? Ah, mas do que importa, ele também parece compartilhar de sua alegria e empolgação.
- Aqui estou! Seu apoio em pessoa. – disse enquanto abraçava forte a garota para ela sentir seu perfume. Ele também sentiu o dela, era um aroma sedutor. – Tá cheirosa pra caramba, ein!
- Você também está, senhorzinho! Não é o meu preferido, mas tudo se resolve... – Riu assim que ele a afastou para fazer careta. – Ih, eu mudo sua opinião sem você perceber... Sou psicóloga lembra? – Disse rindo enquanto caminhavam até o Pálio.
Enquanto dirigia e conversava com ele, a garota sentia seus medos e tristezas desaparecerem, mesmo se pensasse no fato que trazia esses sentimentos, ela não mais os sentia. Ela estava dominada pela tranqüilidade, pela casualidade e pela felicidade de aquele garoto ter vindo só para vê-la.